Home

Transneptunian Occultation Network

Objetos Transnetunianos (TNOs) constituem uma população de pequenos corpos planetários situados além da órbita de Netuno, ou seja, estão afastados do Sol mais de 30 vezes a distância que separa a Terra do Sol (cerca de 150 milhões de quilômetros). Uma outra população de pequenos corpos são os chamados Centauros, que orbitam entre Júpiter e Netuno e acredita-se que pertenciam à população de TNOs e após interações gravitacionais com os planetas gigantes estão transitando pela região mais interna do Sistema Solar. Isto faz com que tais objetos tenham sofrido poucas alterações ao longo do tempo e, por isso, são preciosas fontes de informação sobre a história e a evolução do sistema solar exterior.

Figura 1 – Concepção artística do Centauro Chariklo e seu sistema de anéis. Seus anéis foram descobertos por uma ocultação estelar.

Uma das formas de se estudar os TNOs e Centauros é através da técnica de ocultações estelares. Quando eles cruzam a linha de visada formada por um observador – normalmente na Terra – e uma estrela (ver vídeo 1), mede-se a variação da luz da estrela que resulta do evento de ocultação (curva de luz) e então pode-se determinar a forma e a dimensão do objeto com precisão de poucos quilômetros, saber mais sobre estruturas em suas vizinhanças imediatas, bem como detectar e estudar atmosferas cuja pressão é da ordem de 1 bilhão de vezes menor que a nossa. Tal estudo requer um grande esforço para prever quando e onde uma dessas ocultações ocorrerá (veja este link sobre previsões de ocultações feitas pelo grupo), para observá-la, e também para extrair informações científicas dessas observações.

Vídeo 1 – sequência real de imagens, obtidas em intervalos de 0.1s, no European Southern Observatory (ESO, Chile/La Silla). Perceba que a imagem da estrela brilhante ao centro dá uma “piscadela”, desaparece, reaparece, e dá então uma última “piscadela”. As “piscadelas” ocorrem devido a passagem dos anéis na frente da estrela, enquanto que o desaparecimento da estrela por maior tempo ocorre quando o objeto, no caso Chariklo, passa na sua frente.re/Lucie Maquet.

O mapa da imagem 2 indica, através dos pontos coloridos, locais de observatórios profissionais e telescópios amadores (fundamentais!) que colaboraram ao menos uma vez com as campanhas observacionais organizadas pela nossa equipe. Trata-se, portanto, de um trabalho estimulante e que envolve, além de observações realizadas mundo afora, institutos de pesquisa nacionais e estrangeiros. Ainda, com o advento dos resultados em astrometria da missão espacial GAIA, que fornece posições e movimentos próprios estelares com precisão sem precedentes para cerca de 1 bilhão de estrelas espalhadas por todo o céu, já temos um grande salto na quantidade e qualidade da predição dos eventos de ocultação e consequente impulso nesse estudo.

TNOGraphic
Figura 1 – Locais com observatórios profissionais e telescópios amadores que já participaram de campanhas observacionais organizadas pela nossa equipe. Cores diferentes indicam envolvimento em campanhas observacionais voltadas a diferentes objetos. Recentemente, obtivemos colaboração de astrônomos amadores da China e da Rússia.

Nossa participação no Dark Energy Survey (DES), bem como o suporte dado pelo LIneA, nos permitem  dar um passo ao mesmo tempo ambicioso e necessário: conseguir estudar TNOs, Centauros e outros pequenos corpos de brilho muito tênue (centenas de milhões a dezenas de bilhões de vezes mais fracos que as estrelas que vemos a olho nú no céu noturno), avançando mais profundamente sobre um mundo ainda desconhecido, bem como obter o “know-how” de trabalho num ambiente de grandes massas de dados. Este último, em particular, é requisito para uma participação bem sucedida no Legacy Survey of Space and Time (LSST).