Astrônomo do LIneA publica revisão sobre Estrelas Vermelhas

03 de outubro de 2016 | LIneA

A revista Annual Reviews of Astronomy & Astrophysics (ARA&A) é uma importante e aguardada publicação na área de astrofísica. Trata-se de uma compilação anual de trabalhos escritos sob convite do corpo editorial da revista, e destinada a apresentar o estado da arte de alguns tópicos com recentes avanços significativos.

O astrônomo Léo Girardi, do Observatório de Padova, Itália, e afiliado ao LIneA, foi convidado a escrever um artigo de revisão sobre o chamado “red clump” (que poderia ser traduzido livremente como estrelas do agrupamento vermelho). Pode parecer que se trate de um tipo muito particular de estrelas, mas na verdade são estrelas bastante comuns. Como explica Léo: “Mais ou menos um terço de todas as estrelas vermelhas que vemos nas galáxias próximas são estrelas deste tipo. Até mesmo a estrela mais conhecida, o Sol, se transformará em uma estrela vermelha daqui a uns quatro bilhões de anos, após uma primeira fase de expansão de seu tamanho.”

Estrelas do “red clump” são simplesmente estrelas gigantes que se encontram em uma região muito particular do diagrama brilho-cor. Elas têm uma massa relativamente modesta, e estão realizando no seu interior a fusão de núcleos de hélio em núcleos de carbono e oxigênio. Elas parecem muito vermelhas graças à presença de uma fração significativa de metais (elementos mais pesados do que o hélio) como, por exemplo, o ferro, presente na sua superfície.

Estas estrelas geraram um interesse muito grande nos últimos anos devido a uma série de fatores. O primeiro, é o fato de que elas são consideradas estrelas de tipo “vela padrão”, ou seja, apresentam uma luminosidade quase constante e bem conhecida, que permite uma estimativa muito fácil da distância às galáxias que as hospedam. “Ou pelo menos, isso é o que gostaríamos que acontecesse.” explica Léo. Na verdade, modelos teóricos e observações recentes estão revelando que existe uma dispersão significativa nas propriedades intrínsecas dessas estrelas. Essa variação em suas propriedades deve ser muito bem entendida, antes que possamos confiar cegamente nas distâncias às galáxias que as contêm.

Entre as observações mais importantes, destacam-se as realizadas pelos levantamentos Apache Point Observatory Galactic Evolution Experiment (parte do Sloan Digital Sky Survey), e pelo Dark Energy Survey, nos quais pesquisadores e tecnologistas do LIneA estão envolvidos. Estuda-se em detalhe dezenas de milhares de estrelas do “red clump” na Via Láctea e da periferia das Nuvens de Magalhães. Também importantes são as observações realizadas pelos observatórios orbitais Hubble e Kepler, que fornecem dados de calibração para essas estrelas, como aqueles ilustrados na Figura1. Mais detalhes sobre este estudo podem ser conferidos na íntegra da publicação Red Clump Stars (Annu. Rev. Astron. Astrophys. 2016. 54:95–133).

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Figura 1 – Detalhes do aglomerado estelar NGC419, na Pequena Nuvem de Magalhães, capturados pelo Hubble Space Telescope, revelam a presença de uma miríade de estrelas “gigantes vermelhas” (que, na verdade, aparecem amareladas na imagem) com um brilho quase constante, como podemos ver nos detalhes. Essas são as estrelas do agrupamento vermelho. Um exame mais detalhado revela que existem estrelas deste conjunto que são um pouco mais brilhantes do que outras, como evidenciado pelos círculos vermelhos e verdes. As imagens originais (créditos: MAST/Hubble Archive) foram reprocessadas e montadas por Léo Girardi.

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