Telescópio SOAR observa sombras de mundos distantes

21 de agosto de 2018 | LIneA

Uma câmera capaz de fazer imagens rápidas do céu está instalada no telescópio SOAR. Ela possui a capacidade de fazer mais de 10 imagens por segundo, o que a torna um poderoso recurso para registro detalhado de eventos astronômicos de curta duração. A motivação para a instalação desta câmera é efetuar registros de ocultações estelares por pequenos corpos do Sistema Solar, área na qual alguns pesquisadores e estudantes do ON, OV/UFRJ e da UTFPR possuem destacada atuação internacional. O estudo de pequenos corpos do Sistema Solar através de ocultações estelares permite que tamanho e forma desses corpos sejam determinados com precisões de poucos quilômetros e também que estruturas tais como anéis ao redor desses corpos, bem como atmosferas tênues, sejam detectadas. Até mesmo características de suas topografias, como a presença de grandes vales, podem ser detectadas!

O projeto de instalação desta câmera foi feito por uma equipe liderada pelos pesquisadores R. Vieira-Martins, J. Camargo e F. Braga-Ribas (Observatório Nacional & LIneA), P. Bourget (engenheiro do ESO) e H.Dottori (Diretor do SOAR, na época), com o suporte de técnicos do observatório SOAR. A câmera estará, em breve, disponível para a comunidade astronômica brasileira que utiliza o telescópio SOAR.

Nos meses de junho e julho de 2018, a câmera registrou seus dois primeiros eventos de ocultação estelar:

  • 1- Pelo satélite irregular de Saturno chamado Febe (veja mais sobre Febe aqui).
  • 2- Pelo objeto transnetuniano (471143) 2010 EK139 (ou apenas 2010 EK139, para simplificar).

Um objeto transnetuniano (ou abreviadamente TNO) é aquele que está além da órbita de Netuno, ou seja, a mais de 4.5 bilhões de quilômetros do Sol. Para uma comparação, este valor equivale a 30 vezes a distância Terra-Sol. O TNO 2010EK139, em particular, está a cerca de 5.4 bilhões de quilômetros do Sol. Já o satélite Febe, situa-se a cerca de 1.4 bilhões de quilômetros. A detecção de sombras oriundas de objetos tão distantes requer cálculos sofisticados e equipamentos adequados. As observações das ocultações por Febe e 2010 EK139 mostram, assim, o sucesso de nossas predições destes fenômenos.

Estas observações de ocultações fazem parte de um ambicioso projeto que inclui o uso da DECam (câmera CCD do levantamento Dark Energy Survey – 1234) como preparação para o levantamento Large Synoptic Survey Telescope (LSST). O LSST possibilitará a observação de várias dezenas de ocultações por ano. Num contexto de colaboração internacional, estamos nos preparando para fornecer predições precisas para esses eventos (isto é, quando e onde observá-los), para observá-los nós mesmos, sobretudo quando ocorrerem em nosso continente, e também para analisar os dados oriundos dessas observações.

O processo de redução e análise destas observações contam com a infraestrutura do LIneA e o apoio do INCT do e-Universo.

Quer saber como foram as observações desses eventos? Confira abaixo a ocultação por Febe, registrada por J. Camargo e A.R. Gomes Júnior, e a ocultação por 2010EK139, registrada por J. Camargo e G. Benedetti-Rossi.

Note que, na ocultação por Febe, ainda há brilho na posição da estrela durante a ocultação. O que estamos vendo, na verdade, é o brilho do próprio Febe!

Para saber mais sobre TNOs e pesquisas deste grupo, veja os links sobre Haumea, Febe e ocultações.

 

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