Existe um nono planeta no Sistema Solar?

31 de março de 2016 | LIneA

Em 1846 Johan Galle identificou pela primeira vez o planeta Netuno, apontando seu telescópio para uma região do céu determinada matematicamente por Urbain Le Verrier. Era onde Netuno deveria estar para explicar divergências entre as observações de Urano e a órbita do mesmo planeta calculada matematicamente a partir das leis físicas deduzidas por Isaac Newton. Esta conquista da mecânica celeste motivou outros cientistas, a partir de então, a partirem para a busca de um nono planeta. Em 1930, finalmente, foi descoberto Plutão, considerado como o nono planeta do Sistema Solar até 2006, quando o mesmo foi rebaixado a planeta anão. No entanto, diferentemente de Netuno, descobriu-se mais tarde que Plutão teria sido encontrado por um trabalho meticuloso e incansável de Clyde Tombaugh, incluindo também alguma sorte, e não somente pelos cálculos de Percival Lowell que teria delimitado aproximadamente a região do céu onde ele poderia estar.

Em vista da perda do status de Plutão como planeta, ficou aberta a possibilidade da existência de um real nono planeta no Sistema Solar que viesse a substituir Plutão. Nas últimas décadas, várias sugestões foram dadas quanto à possibilidade da existência de um candidato, em função de possíveis anomalias observadas no Sistema Solar. Recentemente, o astrônomo Rodney Gomes, ligado ao LIneA, sugeriu a necessidade da existência de um tal planeta para explicar um excesso de Centauros distantes. Estes objetos, do tipo cometário, entram na região habitada pelos planetas gigantes, mas, na parte mais afastada de suas órbita, podem estar ainda mais longe que o suposto planeta desconhecido. No entanto, foi somente em fevereiro de 2016, através da publicação de um artigo por K. Bagytin e M. Brown que a comunidade científica começou a dar mais crédito à possível existência de um nono planeta no Sistema Solar. Este trabalho focaliza o coincidente alinhamento de várias órbitas de objetos distantes no Sistema Solar, chamados trans-Netunianos. Para não acreditarmos nesta tamanha coincidência (calculada em 0.007% de chance acontecer no Sistema Solar como hoje é conhecido), devemos admitir que um objeto do tamanho de dez Terras a uma distância 700 vezes maior que a distância da Terra ao Sol deva existir no Sistema Solar e esteja aguardando a nossa descoberta.

É importante ressaltarmos o caráter excepcional de um planeta deste tipo. Netuno, o planeta mais distante do Sistema Solar, dista do Sol de “apenas” 30 vezes a distância Terra-Sol. Além disto, ao passo que os planetas hoje conhecidos orbitam o Sol em órbitas situadas aproximadamente no mesmo plano como se estivessem contidas em um disco imaginário, o nono planeta fugiria deste plano por aproximadamente 30 graus e teria uma órbita alongada, diferentemente das órbitas quase circulares dos oito planetas hoje conhecidos (ver Figura 1). Isto acrescenta uma dificuldade com relação a como este planeta distante poderia ter sido formado. Sabe-se que os planetas se formam a partir de um disco de gás e poeira. Esta poeira se aglutina em corpos cada vez maiores até formarem os planetas (e na verdade todos os outros objetos do Sistema Solar). Esta origem a partir de um disco é o que explica as órbitas dos planetas aproximadamente num mesmo plano. Desta forma, a melhor explicação para a órbita do nono planeta é que ele tenha se formado perto de onde estão os planetas atuais e numa órbita aproximadamente no plano do disco original, mas, devido a encontros próximos com os planetas gigantes do Sistema Solar (Júpiter e Saturno), ele teria sido arremessado para os confins do Sistema Solar em uma órbita distante, alongada e inclinada.

Membros da colaboração DES estão envolvidos na busca por um candidato a Planeta Nove, usando dados do levantamento e observações específicas para este fim com a DECam. Quem sabe teremos novidades em breve.

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Figura 1 – Órbita do planeta nove (em amarelo) e as órbitas anti-alinhadas de objetos distantes do Sistema Solar. Crédito da imagem: CALTECH / R. HURT (IPAC)

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