Há quarenta anos atrás, os Bee Gees estouravam o sucesso How Deep Is Your Love, ou em bom português O Quão Profundo é Seu Amor, parte da trilha sonora do filme Embalos de Sábado a Noite (Saturday Night Fever), onde Tony Manero, o personagem principal vivido por John Travolta, passava os sábados à noite sob o pisca-pisca das luzes da discoteca 2001 Odissey.
Apreciadores do céu noturno buscam uma outra “odisseia no espaço”. Sob o pisca-pisca de estrelas em lugares remotos, longe da poluição luminosa das cidades, se perguntam: O Quão Profundo é o Céu?
Cientistas interessados em galáxias distantes também se fazem essa mesma pergunta, mas precisam primeiro quantificar essa noção de “profundidade” do céu. Em um levantamento astronômico como o Dark Energy Survey (DES), a “profundidade”, medida pelo brilho dos objetos mais fracos que conseguimos detectar em uma imagem, é afetada principalmente por condições atmosféricas, como o brilho do céu e o chamado seeing.
Em um lugar distante das luzes da cidade, como o observatório de Cerro Tololo (Chile), onde o DES faz suas observações, a Lua (quando aparece) é a responsável por boa parte do brilho do céu. Nem sempre é possível fugir de seu brilho, especialmente quando está Cheia, e obter um céu escuro como na Figura 1. Quando não há Lua, podemos observar objetos mais fracos, o que é fundamental quando os alvos são galáxias distantes.
Outro fator que contribui para dificultar a detecção de objetos fracos é o seeing. Este efeito está ligado à turbulência da atmosfera – que também é responsável pelo pisca-pisca das estrelas – produzindo um espalhamento dos fótons chegando ao detector. Isto diminui a concentração do sinal do objeto observado, tornando a imagem mais “borrada” (Veja Figura 2).
Como não conseguimos controlar essas condições, a “profundidade” pode variar ao longo das muitas noites de observação do levantamento. É fundamental entender como essa “profundidade” varia espacialmente no momento de se fazer análises científicas. Por exemplo, ao estudar o grau de aglomeração de galáxias, que é uma consequência direta da competição entre gravidade e energia escura, precisamos verificar se uma região tem mais galáxias por que é mais profunda, e assim vemos mais delas, ou se é realmente uma região de maior concentração intrínseca de galáxias. Para entender isso, os cientistas do DES constroem mapas de “profundidade” como visto na Figura 3.
O LIneA e o INCT do e-Universo apoiam participantes brasileiros do levantamento DES. Através de um Portal Científico desenvolvido pelos brasileiros, entre outras facilidades, preparam-se “mapas de efeitos sistemáticos” que podem afetar as análises científicas. Recentemente, o Dr. Ricardo Ogando, membro da equipe, fez estágio no SLAC National Accelerator Laboratory para se inteirar da tecnologia de criação de alguns destes mapas com o Dr. Eli Rykoff, deste instituto, cujos elementos foram apresentados em Assessing Galaxy Limiting Magnitudes in Large Optical Surveys(Medindo a Magnitude Limite de Galáxias em Grandes Levantamentos Ópticos). Esses mapas podem ser gerados no LIneA e posteriormente distribuídos para a colaboração DES.


