Evento na UNESP discute infraestrutura para grandes projetos de pesquisa

23 de maio de 2019 | LIneA

Colaborações científicas de longo prazo costumam dar muitos resultados de alto impacto, mas exigem grande infraestrutura de pesquisa. Um bom exemplo disso é o Large Hadron Collider (LHC), que é considerada a maior máquina do mundo (com mais de 20 km de circunferência) e levou uma década para ser construída, envolvendo milhares de cientistas de mais de 100 países. O LHC confirmou muitas previsões do Modelo Padrão de partículas elementares, culminando com a descoberta do bóson de Higgs, nos permitindo entender melhor a estrutura da matéria. Observatórios de ondas gravitacionais (ex. LIGO), neutrinos (ex. IceCube), raios cósmicos (ex. Auger), e mesmo grandes levantamentos astronômicos, como SDSSDES e LSST, apoiados pelo LIneA no Brasil, também precisam de investimento de longo prazo para seu planejamento e operação para alcançar seus importantes resultados.

Para debater a importância dessas colaborações e da infraestrutura necessária em diversas áreas do conhecimento, pesquisadores da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Cern) – responsável pela construção do LHC –, do Fermi National Accelerator Laboratory (Fermilab), nos Estados Unidos, e do Science and Technology Facilities Council, no Reino Unido, reuniram-se com pesquisadores e dirigentes de agências de fomento da América Latina em evento que terminou no dia 1º de maio no Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista, em São Paulo.

“Os problemas científicos da América Latina são complexos e exigem big science. É preciso colaboração para a construção de infraestrutura científica necessária. Afinal, as soluções para problemas complexos não vão sair de um único laboratório e um único lugar”, disse Lidia Brito, diretora do Escritório Regional em Montevidéu (Uruguai) da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) (Figura 1). Segundo Lidia, é preciso que os financiamentos à pesquisa na América Latina atravessem fronteiras.

Figura 1 – Lidia Brito no evento que ocorreu na UNESP. Créditos da imagem: Felipe Maeda / Agência FAPESP.

Sediado pelo Instituto Sul-Americano para Pesquisa Fundamental (ICTP-SAIFR), o primeiro Fórum Estratégico Latino-Americano para Infraestrutura na Pesquisa (LASF4RI) debateu a possibilidade de cooperações de longo prazo que exijam grandes infraestruturas no contexto da América Latina. A ideia do Fórum foi iniciar a discussão de um Planejamento Estratégico para investimentos em infraestrutura científica para a América Latina, inicialmente nas áreas de Física de Altas Energias e Cosmologia. Para isso, um grupo preparatório com físicos da região foi instituído e teve sua primeira reunião no segundo dia do workshop. Um grupo estratégico coordenado por Luciano Maiani (ex-diretor geral do CERN) e Fernando Quevedo será formado para analisar propostas a serem enviadas pela comunidade através de white papers. “Esse é o começo de um longo processo para apontar sinergias nas pesquisas nessas áreas desenvolvidas em diferentes países da região”, observou Rogerio Rosenfeld, membro do LIneA, vice-coordenador do INCT do e-Universo e um dos organizadores do evento. Também tomou parte do evento o coordenador do LIneA e do INCT do e-Universo.

No Brasil, o Projeto _Sirius_ (Figura 2) é considerado fundamental, uma vez que, quando estiver pronto, será um dos equipamentos mais avançados no mundo. O Sirius funciona como um microscópio gigante e vai nos permitir explorar a estrutura da matéria com sua fonte de luz síncrotron, avançando áreas como energia, saúde e meio ambiente, ajudando a produzir melhores fontes de energia, remédios, e alimentos. O projeto teve 85% do investimento financeiro executado no Brasil, com empresas brasileiras, mas muitos dos pesquisadores que o utilizarão serão estrangeiros (a maior parte da América Latina). É uma grande oportunidade de colaboração internacional em pesquisa e de fazer programas relevantes para toda a região.

Figura 2 – A arquitetura do prédio do Projeto Sirius em Campinas se destaca. Materiais e técnicas avançadas foram utilizadas para evitar vibração e manter a temperatura estável. Crédito: LNLS

Mais informações sobre o evento podem ser encontradas aqui.

LIneA é um laboratório apoiado pelo Observatório Nacional (ON), Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), e pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), criado com a finalidade de dar suporte à participação brasileira em levantamentos astronômicos. O INCT do e-Universo também apoia brasileiros participantes de grandes levantamentos astronômicos, incluindo o DES e o LSST.

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